Mensagens expressivas e poderosas da língua japonesa
Na exposição DŌ: O caminho de Shoko Kanazawa, cada obra de Shodō, caligrafia japonesa, traz uma mensagem poderosa. Por meio de kanjis, os ideogramas que compõem as palavras e expressões da língua japonesa, a jovem artista Shoko Kanazawa, além de se expressar por meio da arte da caligrafia, dá ao espectador – e ao mundo – um respiro, um momento de contemplação e reflexão a partir de sua escrita.
Ichigo ichie (一期一会): uma vez, um encontro
Um dos pergaminhos da mostra, por exemplo, apresenta o célebre termo “Ichigo ichie” (一期一会). Podendo ser traduzido como “uma vez, um encontro”, seu significado expande-se para diferentes áreas e situações da vida cotidiana.
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Para melhor compreendê-lo é preciso voltar no tempo e resgatar sua origem. Acredita-se que essa expressão tenha tido seu primeiro registro escrito por volta do século XVI em um caderno de anotações de um importante mestre do chá. A cerimônia do chá é um ritual minucioso, que carrega em cada gesto e sutileza a tradição da milenar cultura japonesa. Portanto, em meio a tantos detalhes, espera-se que o participante esteja atento, imerso e dedicado a vivenciar esse momento que será único e não se repetirá jamais, pois tudo e todos ali presentes estão em permanente e constante mudança.
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A mãe de Shoko Kanazawa, Yasuko Kanazawa, diz: “As reflexões de Shoko sobre o futuro estendem-se até o almoço do dia seguinte. Ela não se preocupa com o futuro nem se arrepende do passado. Vive o agora, 100% presente. Shoko realmente valoriza cada momento como sendo uma oportunidade única na vida”. Essa postura perante a vida pode ser encarada como uma característica peculiar da cultura japonesa, mas também pode ser levada como um ensinamento para todos: de experienciar e aproveitar a generosidade do momento presente.
Para além de conceitos religiosos ou doutrinas espirituais, o ichigo ichie é também uma filosofia, um exercício contínuo e diário. Está no desfrutar do sabor, do aroma e da temperatura do chá, na apreciação da floração das cerejeiras, que ao mesmo tempo que desabrocham já se encaminham para seu fim, na efemeridade do instante e na compreensão que não existe momento mais oportuno para se estar do que o presente.