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O costume de consumir bentô nas estações de trens
Se viajar de trem e shinkansen é uma das melhores formas de se vivenciar a cultura local no Japão, há um elemento essencial para tornar essa experiência ainda mais completa: o ekiben. Comercializadas nas estações de trens por todo o país, as marmitas têm origem em um costume ainda mais antigo: o de levar porções individuais de comida preparada em casa para o trabalho e escola.
Ekiben é uma abreviação de eki (estação) e ben (diminutivo de bentô, a palavra usada para as marmitas). A tradição de se usar caixas de madeira laqueada ou bambu para transportar refeições tem raízes no Período Kamakura, que se estendeu entre os séculos XII e XIV. O costume de preparar a comida em casa, organizando-a em uma marmita com compartimentos de diferentes tamanhos, persiste até hoje, adaptando-se às necessidades de cada época, mas sem perder suas características originais.
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O começo de tudo
O dia 16 de julho de 1885 é o primeiro registro oficial da venda de um ekiben - bolinhos de arroz com ameixa em conserva embrulhadas em folhas de bambu - na Estação Utsunomiya (Província de Tochigi). Mas a comercialização das refeições pode ter começado anos antes, já que a primeira linha ferroviária do Japão começou a ser operada em 1872, com percursos bastante longos. Um exemplo é que, até 1964, quando o shinkansen foi introduzido, a rota entre Tóquio e Osaka levava cerca de 6 horas e 30 minutos, o que poderia significar grandes intervalos entre as refeições.
Havia uma demanda crescente a ser atendida, e as marmitas vendidas nas estações de trem eram uma alternativa saudável, saborosa e acessível. Para ser considerado um verdadeiro ekiben, entretanto, é preciso respeitar algumas características, e a principal delas é que a comida não pode ser industrializada. Com altos padrões de qualidade, esses bentôs geralmente combinam vegetais, arroz ou macarrão e carne bovina, suína ou pescados, que podem ser servidos frios ou quentes.
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Ekiben vendido em uma viagem de shinkansen, o trem-bala japonês
Comida feita na hora?
Sim, a opção de refeições aquecidas existe graças a um processo químico que cria uma bolsa de calor no interior da marmita e que é desencadeado com o simples puxar de um fio na lateral da caixa. Bastam 5 minutos e a comida parece ter acabado de ser preparada.
A cada estação, um pouco da culinária local
Estima-se que no Japão existam mais de 2 mil tipos de ekiben, um reflexo direto da rica cultura gastronômica do país. Assim, é possível conhecer um pouco da culinária de cada cidade ou província por meio das iguarias vendidas nas estações, que combinam elementos locais que vão desde ingredientes típicos a métodos de cozimento, mitos e até artesanato. Isso tem reflexo direto nas embalagens, que podem apresentar formatos personalizados, que ajudam a diferenciar seus conteúdos.
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Loja vendendo diferentes opções de ekiben em estação de trem no Japão
A cada época do ano, opções diferentes de refeições
A sazonalidade também desempenha um papel importante no preparo das refeições. Mesmo com nomes similares, o conteúdo dos bentôs pode variar de acordo com a época do ano, quando determinados ingredientes estão ou não disponíveis. Afinal, o ekiben é considerado uma espécie de mimo que as pessoas dão a si mesmas e por isso mesmo deve ser uma combinação do que há de melhor naquele lugar e época do ano. E como todo grande símbolo nacional, o ekiben também tem uma data dedicada a ele: 10 de abril.
Uma recomendação importante é sempre chegar cedo às estações de trem para ter tempo de escolher a refeição, já que em algumas lojas há mais de 100 opções. Outro ponto de atenção é que, embora seja permitido comer e beber em trens de percursos longos, onde também é possível encontrar serviços de bordo, é melhor evitar o consumo de alimentos e bebidas em distâncias curtas, pois os vagões costumam ficar mais cheios.
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Ekiben vendido em uma viagem de shinkansen, com opção de chá verde
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