De um lado, uma fachada imponente, composta por madeiras centenárias trazidas do Japão, um tributo à tradicional, precisa e delicada arquitetura japonesa. Do outro, uma fachada de cobogós de concreto, criados a partir dos elementos vazados que tanto sucesso fizeram na arquitetura brasileira dos anos 30. Paredes de inspirações distintas, o ângulo onde dois mundos se encontram.
Assim é o prédio da JAPAN HOUSE São Paulo, um misto de Brasil e Japão, assinado pelo premiado arquiteto japonês Kengo Kuma, na Avenida Paulista, 52 – um endereço ícone para os paulistanos. Kuma san aceitou o desafio de reformar um espaço já existente e transformou 2.500 metros quadrados num local com identidade própria, um edifício que combina traços nipônicos com brasileiros.
A fachada para a Av. Paulista traz um painel de madeira hinoki montada por uma equipe de artesãos especializados na arte de encaixes, cuja técnica remonta 300 anos. Peças grandes e menores de hinoki se unem num quebra-cabeças de 630 peças que compõem os 36 metros de fachada, mais 300 peças de portão.
Nobre, o hinoki leva de 70 a 80 anos para alcançar a vida adulta. Considerado sagrado dentro da religião xintoísta, é também utilizado para a construção de templos sagrados. “Ao usar o hinoki, a madeira mais preciosa do Japão, com sua textura e aroma tão especiais, eu quis oferecer aos brasileiros a essência do espírito japonês”, diz Kuma san.
A inspiração para o painel de madeira surgiu após uma visita de Kuma san ao Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera, também construído com hinoki e técnicas de encaixe. Há mais de sessenta anos, o mestre de seu mestre construiu o Pavilhão e, agora, ele aplicou a técnica de maneira absolutamente contemporânea. O Pavilhão foi desenhado por Sutemi Horiguchi (co-fundador do primeiro movimento moderno da arquitetura no Japão), mestre de Yoshichika Uchida, que por sua vez foi professor de Kuma. Assim, a JAPAN HOUSE São Paulo é ímpar por entrelaçar o DNA de arquitetos expoentes, originando um marco da arquitetura japonesa em São Paulo.
COBOGÓS
Uma das características do arquiteto Kuma é usar materiais e influências locais em seus projetos. No Brasil, ele se interessou por duas linguagens fortes da Arquitetura local: o concreto e os cobogós, blocos vazados que permitem a passagem de luz e fizeram grande sucesso no Brasil nos anos 30. Kuma san juntou as duas coisas e criou um cobogó de concreto, de 90x90cm, que compõe a segunda fachada da casa, voltada para a praça 13 de Maio. Assim, como num diálogo entre diferentes materiais, uma fachada é de madeira japonesa. A outra, de cobogós brancos, bem brasileiros.
No interior do prédio, a proposta de Kuma san inclui placas metálicas vazadas revestidas de washi – papel artesanal. O trabalho apresenta aos brasileiros mais uma tradição japonesa, de produção de papel a partir de diferentes plantas, o washi entre elas. O resultado se vê em divisórias e portas de correr que compõem os ambientes internos.
O washi está presente também nas grandes portas deslizantes, chamadas de fusuma na arquitetura tradicional japonesa. Elas delimitam ambientes, quando fechadas, ou criam espaços mais amplos, se mantidas abertas.
Na área de seminários, por exemplo, as combinações de divisórias móveis, abertas ou fechadas, criam ambientes capazes de receber de 10 a 100 participantes. Kuma san queria usar o washi, mas precisava aumentar a resistência, daí a inovação: usar o papel como revestimento das placas metálicas. Coube ao artesão Yasuo Kobayashi abraçar o desafio e desenvolver a técnica que, agora, promete ser usada em outras edificações no Japão. Kuma san deu à JAPAN HOUSE São Paulo um uso inovador de materiais naturais, como a madeira e o papel, criando a sensação de leveza e luminosidade. Empregou técnicas artesanais, que valorizam a vida e o homem. Criou um espaço único, onde o conhecimento da cultura japonesa começa nas próprias paredes da casa.