Mensagens expressivas e poderosas da língua japonesa
Na exposição DŌ: O caminho de Shoko Kanazawa, cada obra de Shodō, caligrafia japonesa, traz uma mensagem poderosa. Por meio de kanjis, os ideogramas que compõem as palavras e expressões da língua japonesa, a jovem artista Shoko Kanazawa, além de se expressar por meio da arte da caligrafia, dá ao espectador – e ao mundo – um respiro, um momento de contemplação e reflexão a partir de sua escrita.
Subjetiva, a língua japonesa traz em seus signos um potencial poético, o qual as obras de Shodō são capazes de potencializar a partir da contemplação do gesto do artista, da expressividade aplicada sobre o papel, dos respingos ocasionais que são abraçados como parte fundamental do fazer artístico, tanto quanto a mensagem apresentada.
“Usenfūma” (雨洗風磨): “a chuva lava, o vento lapida”
A obra intitulada “Usenfūma” (雨洗風磨) é uma delas. Pictórica, o primeiro ideograma que a compõe, 雨 /u/, remete à chuva tanto em seu significado quanto na maneira como foi grafado, como pingos d’água precipitando. Junto com as demais letras, nos traz uma expressão zen que pode ser traduzida como “a chuva lava, o vento lapida”.
Palavras de Yasuko Kanazawa, mãe e mestre da artista, sobre a obra “Usenfūma” (雨洗風磨):
“Ao ficar exposto à chuva e ao vento durante muito tempo, o coração é lavado e purificado. Prezar o infortúnio propicia o amadurecimento do homem.” Tais palavras nos indicam que há uma postura inerente à artista e um ensinamento de que é preciso estar aberto às mudanças, perseverando ainda que em situações adversas.
Presente na noção gaman, por exemplo, a obra “Usenfūma” nos traz a mensagem de que mesmo nos deixando molhar pela chuva, é possível encontrar um raio de sol ou uma brisa que possa nos secar e, mesmo que isso nos transforme ou deixe marcas, podemos amadurecer.