De abril a junho de 2022, está em cartaz na Japan House São Paulo a exposição [ím]pares, uma mostra sobre design contemporâneo de joias japonesas. Em colaboração com a Japan Jewellery Designers Association (JJDA), conteúdos sobre técnicas utilizadas na joalheria local foram desenvolvidos e apresentam detalhes e curiosidades sobre suas possíveis aplicações e modos de produção.
A técnica cloisonné japonesa moderna
Shippō yaki é o termo em japonês para a cerâmica cloisonné, técnica de decoração de objetos de metal que utiliza esmalte. Shippō é uma palavra do vocabulário budista que, segundo o Sutra da Vida Infinita, se refere aos sete tesouros da Terra Pura do Buda Amitaba: o ouro, a prata, o lápis-lazúli, o cristal, a pérola, a ágata e a madrepérola.
Até o período moderno, a técnica mais comum era o zōgan shippō, utilizado na decoração de guardas de espadas e de puxadores de portas corrediças de papel (fusuma). Porém, no final do período Edo (1603-1868), Tsunekichi Kaji, filho de um samurai de Owari que administrava uma empresa de watashigane (placa de metal utilizada no processo de escurecer os dentes), desenvolveu o yūsen shippō colorido com esmalte sem brilho e com aspecto turvo, o que seria a origem do shippō moderno.
Posteriormente, com a invenção dos esmaltes vítreos, a produção de Kaji impulsionou o desenvolvimento de uma grande indústria com foco na cidade de Shippō, na atual província de Aichi. Inclusive, com o incentivo ao crescimento dessa novidade pelo governo Meiji, o shippō da região foi exibido na Exposição Universal de 1967. Com sua técnica delicada e sofisticada, além de sua beleza singular, as peças de cloisonné japonês moderno atraíram os europeus e americanos, tornando-se produtos importantes de exportação japonesa e disputadas pelos colecionadores estrangeiros.
Processo de produção básico do yūsen shippō moderno:
- Confecção da peça de base: o artesão molda a estrutura de metal da peça.
- Aplicação das linhas: estabelecido o desenho a ser seguido, tiras de metal são coladas para formar os contornos. Como cola, utiliza-se bulbo de orquídea derretido, que não deixa vestígios depois do processo de queima que a peça será submetida.
- Aplicação do esmalte: o esmalte é aplicado de maneira muito fina e diversas vezes, com pincéis ou agulhas. Assim, evita-se a formação de bolhas.
- Queima: a peça passa por um processo de queima a uma temperatura de aproximadamente 800ºC.
- Polimento: depois resfriada naturalmente, a peça passa por um processo de polimento, que é feito na superfície coberta de esmalte. Hoje se utiliza pó de diamante, mas o carvão era o material mais utilizado antigamente.
Essas etapas são realizadas por artesãos diferentes e as de número 3, 4 e 5 se repetem até que se obtenha o resultado desejado.
Outras técnicas existentes
Há uma técnica em que se retiram as tiras de metal depois da aplicação do esmalte, ela é chamada de musen shippō. Os esmaltes de cores diferentes se misturam e criam um efeito natural de gradação. Sōsuke Namikawa inventou a técnica e, com isso, tornou possível a criação de peças que se assemelhavam a pinturas.
Há também a técnica de tōmei shippō - em que o metal é entalhado e o esmalte transparente é aplicado, dando destaque aos padrões gravados na base. No shōtai shippō, o metal da peça é derretido com ácido depois da queima e sobram somente os contornos das tiras de metal e o corpo de esmalte, trazendo um efeito semelhante ao do vitral. Já no sōtai shippō, mais especificamente, algumas partes da base da peça ficam vazadas e o esmalte é aplicado somente com a tensão superficial do material.
Conclusão
O shippō moderno, que se estabeleceu como uma grande indústria no período Meiji, viu seu declínio nos últimos 100 anos. Inclusive, as grandes obras estão sob a posse de museus e coleções privadas nos Estados Unidos e na Europa e a oportunidade de vê-las dentro do Japão está se tornando cada vez mais rara.
Essa arte foi redescoberta por Masayuki Murata e está de volta ao Japão. Atualmente, obras de extrema importância do shippō moderno são exibidas no Kiyomizu Sannenzaka Museum, no qual Murata é diretor, o que tornou possível a apreciação das melhores obras da época.
Além dessa iniciativa, outro marco foi a inauguração do Namikawa Cloisonne Museum of Kyoto, em 2003, e do Shippo Art Village, em 2004 - em Shippō, na cidade de Ama, província de Aichi, que contam o legado do shippō da era Meiji e representam uma nova iniciativa de transmissão dessa tradição.
Japan Jewellery Designers Association (JJDA)
Fonte: Rokushō vol. 29 – Especial shippō
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