A Japan House São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake se uniram para a série "Correspondências Arquitetônicas: Brasil e Japão", uma troca semanal de cartas online que irá traçar um paralelo sobre temas relacionados ao MORAR nos dois países.
Querido Instituto Tomie Ohtake,
Adoramos conhecer mais sobre a experiência da Casa Bola e pensar que algumas das práticas da arquitetura no Brasil podem ter tido influências de correntes do Japão. De fato, a arquitetura japonesa possui muitos exemplos de moradias unifamiliares que desafiam os limites do morar convencional, assim como fez Eduardo Longo, em 1979.
Os arquitetos japoneses são reconhecidos mundialmente por suas experimentações na arquitetura residencial. Porém, uma casa não convencional requer também um cliente não convencional. E o mais interessante é que, no Japão, essas experimentações não são necessariamente de cunho luxuoso, mas muitas vezes são financiadas por clientes de classe média que buscam uma casa pequena e que estão abertos a ousadias.
Um exemplo marcante é a House NA (Casa NA), de 2010, desenhada pelo arquiteto Sou Fujimoto, que foi tema de uma exposição na Japan House São Paulo, em 2017. Projetada para um casal em um bairro tranquilo de Tóquio, a casa impressiona por ser quase completamente de vidro, permitindo que todo o movimento do seu interior seja observado por quem passa na rua.
O espaço é dividido em 21 placas de piso individuais, fixadas em níveis diversos. Cada uma dessas placas está ligada por escadas ou patamares, fixos ou móveis. A proposta espacial partiu da ideia de uma árvore, onde cada galho é um ponto isolado, mas ao mesmo tempo, todos estão conectados. O mesmo acontece na casa: enquanto é possível realizar atividades de maneira íntima em cada piso, também permite-se reunir um grupo de pessoas que, mesmo estando em diferentes níveis, podem ter vivências coletivas. Os espaços, assim, assumem funções variadas.
A estrutura em aço branco reflete a elegância e delicadeza da arquitetura de Fujimoto. As instalações sanitárias e de aquecimento estão na parede aos fundos do terreno, não obstruindo a visão da rua. A ausência de divisórias, no interior e exterior, é compensada com cortinas, que limitam os espaços de acordo com a atividade que está em curso. Elas remetem os painéis shoji, estruturas de correr feitas com material translúcido, utilizadas para delimitar o espaços na arquitetura tradicional japonesa.
A diversidade de invenções na arquitetura residencial no Japão é imensa. Diversos aspectos culturais, sociais e mesmo naturais estimulam essa inventividade, além de um mercado imobiliário muito complexo, que acaba dando espaço a criações que não seriam possíveis em outros países. A rapidez com que os projetos são atualizados ou que surgem novidades é notável, o que faz com que a arquitetura japonesa exerça um retrato do morar contemporâneo quase em tempo real.
É muito interessante pensar como esses experimentos na cidade conversam entre si e com seu entorno, sugerindo modos de vida alternativos e novos entendimentos do conceito da casa e do morar, permitindo também que o campo da arquitetura se desenvolva como um todo.
Até semana que vem!
Um grande abraço,
Japan House São Paulo
* Essa é a nossa resposta à carta do Instituto Tomie Ohtake. Leia aqui.
imagens Iwan Baan
Instituto Tomie Ohtake
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Sou Fujimoto
Site: http://www.sou-fujimoto.net
Exposição Sou Fujimoto: FUTUROS DO FUTURO
https://www.japanhousesp.com.br/exposicao/sou-fujimoto-futuros-dos-futuros